Nazismo: o triunfo da vontade
A primeira e principal questão que se levanta, quando se entra em contato
com a experiência nazista na Alemanha, vem sempre acompanhada de difícil
resposta, tal a perplexidade e o horror que esse contato provoca. Afinal, como
tudo isso pôde ter acontecido?
Ao final da Segunda Guerra, à medida que os campos de concentração
nazistas eram devassados, todo um espetáculo de horror vinha às claras,
desnudando os dentes da engrenagem de morte que os campos encerravam. Tudo
levava a crer que nunca o ser humano descera tão baixo, nem aviltara tão
gravemente sua própria condição de humanidade, como naquela situação.
E, no entanto, sabia-se de tudo. Até hoje há quem diga que se sabia pouco
ou quase nada, tal o véu de segredo que os nazistas atiravam sobre os campos de
morte. Trata-se de uma maneira defensiva ainda hoje de esconder a grande
degradação a que a criatura humana havia chegado.
Em Dachau (campo de concentração) – está lá para quem quiser ver – há
documentação de artigos, fotos, jornais. Tanto a população alemã, quanto a
opinião pública internacional sabiam do que se passava, até mesmo com detalhes.
Era muita gente envolvida nos campos de morte, para que o horror pudesse ser
contido. Por exemplo, em dezembro de 1941, sabia-se pela imprensa
norte-americana, que mil judeus de Varsóvia haviam sido mor- tos por inalação forçada
de gases venenosos.
Bem antes disso, em 1934, jornais austríacos denunciavam os métodos de
Dachau. E havia as terríveis fotos que ficaram para sempre, apesar do cuidado
que os nazistas tiveram em apagar vestígios. Fotos de fuzilamentos, trabalhos
forçados, torturas, suicídios. Fotos das vítimas das experiências científicas.
É muito perturbador que o regime nazista contasse com o apoio das massas
[...].
Sabe-se que na Alemanha, até muito recentemente, o período nazista ficava
em branco nos livros escolares.
Dupla razão: uma, a vergonha e a dificuldade de carregar esse fardo culposo;
outra, a falta de vergonha ou então um processo de resistência no sentido de
não se assumir uma experiência coletiva, obra de todos.
Para uma abordagem histórica do fenômeno nazista, é necessário entendê-lo
não como uma obra de meia dúzia de endemoninhados; é preciso alcançar a
dimensão social de uma experiência originária de sérias lutas, fruto da crise
por que passava o mundo capitalista.
Nessa mesma trilha, é preciso acompanhar a dimensão específica que o
fenômeno alcança na Alemanha, onde a crise explode, ativa e torna agudos
problemas que já vinham de muito antes: a tradição autoritária prussiana, o
nacionalismo exaltado e o racismo.
LENHARO, Alcir. Nazismo: o triunfo da vontade. São Paulo: Ática, 1986. p.
7-11. v. 94. (Coleção princípios).
Apresentação em pdf sobre a leitura ilustrada do Nazismo: O Triunfo da Vontade
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