Embora contemplando os interesses econômicos da burguesia industrial, no
campo político, o Estado denominado populista colocava-se como representante de
todas as classes, indistintamente. Sua sustentação, porém, dependia do
equilíbrio de formas diversas – os diversos segmentos burgueses representados
na burocracia civil e militar, e os trabalhadores -, especialmente do
operariado. Utilizando categorias genéricas e hegemonizantes, como “povo” e “nação”,
os governantes populistas apregoavam a harmonia entre as classes e a paz social
como condições necessárias ao bem-estar geral.
(Adaptado de: RODRIGUES, Marly. A década de 50. Populismo e metas desenvolvimentistas
no Brasil: Ática, 1992, p. 42.
“Por definição, populismo, significa política de massas, ou seja,
política que utiliza as massas como elemento fundamental nas regras do jogo(...).
O populismo surgiu no momento em que o povo passou a ser instrumento para fins
de reivindicação numa sociedade de transição. O elemento que originou a ação
do povo, nessa fase, foi o Estado. Através da política de massas, o estado
lutou contra as oligarquias, manteve o próprio povo sob controle e consolidou o
progresso industrial dentro de um esquema intervencionista. Devido a falta de
uma tradição de luta e devido ao fato de ter origem heterogênea, as novas
classes urbanas brasileiras puderam ser dirigidas pelo governo, que fez das
leis trabalhistas então criadas um instrumento de pacificação e assumiu uma
imagem paternalista junto à massa.”
(LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil Contemporâneo. 8.ed. Porto
Alegre: mercado Aberto, 1997. P.66-67)
“O populismo como estilo de governo, sempre sensível às pressões populares,
ou como política de massas, que buscava conduzir, manipulando suas aspirações,
só pode ser compreendido no contexto do processo de crise política e de
desenvolvimento econômico que se abre com a Revolução de 1930. Foi a expressão
do período de crise da oligarquia e do liberalismo, sempre muito afins na
História brasileira, e do processo de ampliação do Estado que, por sua vez,
teve que se apoiar sempre em algum tipo de autoritarismo.”
(WEFFORT, Francisco. In BARROS, Edgar Luís de. O Brasil de 1945 a
1964. São Paulo: Contexto, 1990. P14.)
POPULISMO – Prática política, não
raro transformada em doutrina, de extrema complexidade. De modo geral, o
populismo nasce da ou na crise da ideologia dominante, não dispondo de nenhuma
teoria própria e sistematizada. No populismo, o principal motor e instrumento,
o povo, é entendido como uma realidade
homogênea, sem qualquer especificidade classista. Na maioria das vezes, o
populismo, mais latente do que explicito, se amolda com facilidade a várias
fórmulas que tenham referencia comum, ou seja, o povo. De maneira geral, é o
desiquilíbrio do poder em exercício que conduz
uma de suas vertentes a procurar
consolidá-lo pela mobilização popular. O termo populismo aplicou-se a diversos
movimentos políticos e sociais ocorridos em diferentes países da África, Ásia,
Europa e América, assumindo ênfase particular na América Latina, especialmente
na Argentina, no Brasil e no México. No entanto, na Rússia e nos Estados
Unidos, verificam-se procedimentos populistas. No primeiro desses dois países, o movimento “Vontade
do Povo” (Narodnaya Volya) e, no segundo, um partido agrário (século XIX)
representante dos pequenos proprietários agrícolas do Oeste americano podem
inserir-se na definição de populismo, apesar de não poucas contestações. No
populismo, de outra parte, o conceito de povo não é racionalizado, predominando
sempre a emotividade. Isso possibilita muitas vezes a associação do populismo
ao nacionalismo, bem como a existência de líderes carismáticos. O populismo,
também, possui índole maniqueísta, inclinando-se com frequência para o
radicalismo com relação ao que, por ele, não seja considerado “povo”. Tendendo
a penetrar, ideologicamente, em diferentes segmentos sociais durante períodos
de instabilidade política ou econômica, o populismo – via de regra, dogmático –
passa a ser um ponto de coesão e de referência sociopolítica, demonstrando
notável capacidade de mobilização popular. Na América Latina, são tidos como
governos populistas os de Vargas (1930/1945) e João Goulart (1961/1964), no
Brasil; Perón (1946/1955), na Argentina; Lázaro Cárdenas (1934/1940), no
México. O populismo apresenta uma grande diversidade, assumindo aspectos
peculiares nos países em que surgiu, o que o torna muito difícil – senão
impossível - uma conceituação genérica,
no tempo e no espaço, exceto, talvez, a de que esse fenômeno político é,
essencialmente urbano.
In: AZEVEDO, Antonio Carlos do
Amaral. Dicionário de Nomes, Termos, Conceitos Históricos. Editora Nova
Fronteira, 3ª ed, Rio de Janeiro, 1999. pp. 360 - 361
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