Imperialismo
Uma
primeira questão na definição de imperialismo é seu caráter múltiplo. Não há um
imperialismo, mas imperialismos. Cada um com suas práticas e estratégias de
controle específicas, possuindo também diferentes definições. A ideia de
imperialismo surgiu já na Antiguidade. Para Roma, império era a extensão do
próprio Estado, construído com base na colonização. Mas a palavra “imperialismo”
apareceu apenas em 1870, sendo bastante utilizada entre 1890 e 1914, e servindo
ainda hoje para designar práticas militares e culturais desenvolvidas por
potências para exercer domínio sobre outros Estados politicamente
independentes.
As
múltiplas definições de imperialismo podem ser buscadas em uma historiografia
tão vasta quanto heterogênea: de Lenin, que primeiro sistematizou o
imperialismo como objeto das ciências sociais, até Edward Said, que no fim do
século XX estudou o imperialismo na literatura ocidental. Desse amplo debate, o
imperialismo se define como um período histórico específico, que abrange de
1875 a 1914, quando a Europa Ocidental passou a exercer intensa influência
sobre o restante do mundo. O conceito designa também o conjunto de práticas e
teorias que um centro elabora para controlar um território distante.
O
conjunto de práticas que constitui o imperialismo começou a ganhar coerência a
partir do fim do século XIX na Europa ocidental, com a concorrência entre as
economias capitalistas, o abandono da política liberal, o nascimento dos
oligopólios e a participação dos Estados na economia. Foi o momento do
surgimento do Capitalismo Monopolista, em que a livre concorrência entre
diferentes empresas gerou concentração da produção nas mãos das mais bem sucedidas,
levando à formação de monopólio. Rapidamente, os bancos passaram a dominar o
mercado financeiro, exportando capital, influenciando decisões de seus Estados
e impelindo-os para busca de novos mercados.
Nascido,
assim da formação de monopólios, o imperialismo promoveu disputas por fontes de
matérias-primas entre trustes e cartéis que, já tendo dominado o mercado
interno em seus países de origem, precisavam se expandir para além de suas
fronteiras, defrontando-se com cartéis e trustes de países concorrentes. Nesse
momento, a classe detentora da produção capitalista passou a rejeitar as
fronteiras nacionais como barreira à expansão da produção econômica,
transformando o crescimento econômico em expansão territorial.
O
período entre 1870 e 1914 esteve, desta forma, associado à expansão do
Capitalismo Monopolista, à conquista político e militar de territórios e ao
auge do imperialismo sobre o mundo, com a partilha sobre a África. Quase todo o
mundo, com exceção da Europa e da América, foi dividido em territórios dominados
por potências como a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha e, mais tarde, os EUA
e o Japão. Essa divisão respondeu à busca por novos mercados empreendida
simultaneamente pelo capital monopolista de diferentes economias, que se
confundiam com os próprios governos nacionais, gerando assim rivalidade entre
as potências. O próprio status de potência estava associado à posse de do maior
número de territórios dominados e se tornou por si só razão política para a
expansão. Porém, apesar de ter como pano de fundo a expansão mundial das
relações capitalistas de produção, o imperialismo teve também raízes políticas
e culturais, entre as quais se sobressaía a crença na superioridade cultural e
racial dos europeus. Além disso, gerou diversos discursos cujo objetivo era o
controle do proletariado nas próprias metrópoles. Um dos discursos de maior
influência defendia que a migração do excedente populacional da metrópole para
as colônias serviria como válvula de escape para países superpovoados,
melhorando as condições dos trabalhadores metropolitanos e diminuindo a tensão
social. Assim a colonização de territórios conquistados geraria mais empregos e
mais riqueza para a sociedade conquistadora. Esse discurso permitiu que a
burguesia dominante – a única classe a realmente lucrar com a colonização –
convencesse toda a sociedade metropolitana dos benefícios da expansão colonial.
Esse processo, segundo Hannah Arendt, deu origem à transformação do
imperialismo em nacionalismo (já que todas as classes se identificavam com os
interesses do capital monopolista), e à posterior transformação do nacionalismo
em fascismo. Assim, o imperialismo seria a origem do fascismo europeu pós
Primeira Guerra Mundial.
Também
teorias racistas, como o darwinismo social, tiveram importante papel na justificação
da dominação imperialista, ao defenderem a superioridade dos povos brancos
sobre os povos de cor. A “raça branca”,
que se atribuiu o status de raça superior, assumiu, a partir dessas teorias, a
missão civilizadora de levar o progresso,
desenvolvimento e civilização àqueles povos que considerava incivilizados e
racialmente inferiores.
Fonte:
Silva,
Kalina Vanderlei. Dicionário de
conceitos históricos. 3a ed., São Paulo, Contexto, 2013, pp 218-219.
Biblioteca Leituras do Professor - FDE
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