quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Imperialismo - conceito




Imperialismo

Uma primeira questão na definição de imperialismo é seu caráter múltiplo. Não há um imperialismo, mas imperialismos. Cada um com suas práticas e estratégias de controle específicas, possuindo também diferentes definições. A ideia de imperialismo surgiu já na Antiguidade. Para Roma, império era a extensão do próprio Estado, construído com base na colonização. Mas a palavra “imperialismo” apareceu apenas em 1870, sendo bastante utilizada entre 1890 e 1914, e servindo ainda hoje para designar práticas militares e culturais desenvolvidas por potências para exercer domínio sobre outros Estados politicamente independentes.

As múltiplas definições de imperialismo podem ser buscadas em uma historiografia tão vasta quanto heterogênea: de Lenin, que primeiro sistematizou o imperialismo como objeto das ciências sociais, até Edward Said, que no fim do século XX estudou o imperialismo na literatura ocidental. Desse amplo debate, o imperialismo se define como um período histórico específico, que abrange de 1875 a 1914, quando a Europa Ocidental passou a exercer intensa influência sobre o restante do mundo. O conceito designa também o conjunto de práticas e teorias que um centro elabora para controlar um território distante.

O conjunto de práticas que constitui o imperialismo começou a ganhar coerência a partir do fim do século XIX na Europa ocidental, com a concorrência entre as economias capitalistas, o abandono da política liberal, o nascimento dos oligopólios e a participação dos Estados na economia. Foi o momento do surgimento do Capitalismo Monopolista, em que a livre concorrência entre diferentes empresas gerou concentração da produção nas mãos das mais bem sucedidas, levando à formação de monopólio. Rapidamente, os bancos passaram a dominar o mercado financeiro, exportando capital, influenciando decisões de seus Estados e impelindo-os para busca de novos mercados.

Nascido, assim da formação de monopólios, o imperialismo promoveu disputas por fontes de matérias-primas entre trustes e cartéis que, já tendo dominado o mercado interno em seus países de origem, precisavam se expandir para além de suas fronteiras, defrontando-se com cartéis e trustes de países concorrentes. Nesse momento, a classe detentora da produção capitalista passou a rejeitar as fronteiras nacionais como barreira à expansão da produção econômica, transformando o crescimento econômico em expansão territorial.

O período entre 1870 e 1914 esteve, desta forma, associado à expansão do Capitalismo Monopolista, à conquista político e militar de territórios e ao auge do imperialismo sobre o mundo, com a partilha sobre a África. Quase todo o mundo, com exceção da Europa e da América, foi dividido em territórios dominados por potências como a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha e, mais tarde, os EUA e o Japão. Essa divisão respondeu à busca por novos mercados empreendida simultaneamente pelo capital monopolista de diferentes economias, que se confundiam com os próprios governos nacionais, gerando assim rivalidade entre as potências. O próprio status de potência estava associado à posse de do maior número de territórios dominados e se tornou por si só razão política para a expansão. Porém, apesar de ter como pano de fundo a expansão mundial das relações capitalistas de produção, o imperialismo teve também raízes políticas e culturais, entre as quais se sobressaía a crença na superioridade cultural e racial dos europeus. Além disso, gerou diversos discursos cujo objetivo era o controle do proletariado nas próprias metrópoles. Um dos discursos de maior influência defendia que a migração do excedente populacional da metrópole para as colônias serviria como válvula de escape para países superpovoados, melhorando as condições dos trabalhadores metropolitanos e diminuindo a tensão social. Assim a colonização de territórios conquistados geraria mais empregos e mais riqueza para a sociedade conquistadora. Esse discurso permitiu que a burguesia dominante – a única classe a realmente lucrar com a colonização – convencesse toda a sociedade metropolitana dos benefícios da expansão colonial. Esse processo, segundo Hannah Arendt, deu origem à transformação do imperialismo em nacionalismo (já que todas as classes se identificavam com os interesses do capital monopolista), e à posterior transformação do nacionalismo em fascismo. Assim, o imperialismo seria a origem do fascismo europeu pós Primeira Guerra Mundial.

Também teorias racistas, como o darwinismo social, tiveram importante papel na justificação da dominação imperialista, ao defenderem a superioridade dos povos brancos sobre os povos de cor. A “raça branca”, que se atribuiu o status de raça superior, assumiu, a partir dessas teorias, a missão civilizadora de levar o progresso, desenvolvimento e civilização àqueles povos que considerava incivilizados e racialmente inferiores.


Fonte:


Silva, Kalina Vanderlei. Dicionário de conceitos históricos. 3a ed., São Paulo,  Contexto, 2013, pp 218-219.

Biblioteca Leituras do Professor - FDE




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