Nazismo
Abreviação pela qual ficou
conhecido mundialmente o Partido Nacional-socialista Operário Alemão (Nationalsozialistische
Deutsche Arbeiter Partei), denominação estabelecida em 1920. Historicamente, o
nazismo pode ser explicado como uma reação à primeira guerra mundial e também
como a concretização de ideias políticas que há muito persistiam na alma alemã
bem explorada pelo fundador do partido, Adolf Hitler (1889-1945). Originalmente
uma modesta agremiação que congregava figuras inexpressivas – jornalistas,
militares, estudantes – a sua maioria compunham-se de comerciantes decadentes e
ex-soldados que viam nessa organização apenas o lucro imediato. O
surgimento de grupos paramilitares – milícias privadas, surgidas um ano depois
da fundação do partido, as famosas SA (Sturmabteilungen) – visava menos a
manter a segurança dos integrantes do partido do que praticar violências para
fins lucrativos de caráter material. A própria ordem nazista, vendo-se
ameaçada, promoveu a substituição, em 1934, pelas SS (Schutzstaffel). No plano
ideológico, o nazismo tem sido objeto de muita discussão, mormente no tocante
às suas origens e ao seu embasamento, sendo que alguns autores os encontram no
Sacro Império Romano de Nação Germânica, enquanto outros os ressaltam como obra
de um líder carismático, único responsável pelo seu triunfo. De qualquer
maneira, politicamente, o nazismo tornou-se uma realidade definitiva a partir
de 1932, quando, nas eleições, os nazistas conquistaram 230 cadeiras no
Parlamento. No ano seguinte, apoiado por grandes industriais, Hitler foi
nomeado primeiro-ministro. Desde logo se programou violenta crítica ao Tratado
de Versalhes ao mesmo tempo em que se difundia a teoria do “espaço vital”
(Lebensraum), indispensável ao povo alemão que teria de libertar-se do
confinamento imposto pelo acordo decorrente da guerra. A isso, aduza-se a
tradicional vocação militarista alemã, consubstanciada numa política
expansionista, imperialista, fundamentada na suposta superioridade biológica e
racial “ariana” e voltada contra seus principais inimigos, considerados
inferiores, judeus e comunistas. Essa teoria justificaria a guerra e a
conquista de territórios, bem como a opressão de populações inteiras. Na estruturação
e na consolidação do nacional-socialismo, a propaganda desempenhou sempre papel
de capital importância. A toda hora motivos poderiam ser invocados para a
reunião de grandes massas populares. No calendário nazista, aliás, as
comemorações abrangem o ano inteiro e, com frequência, incidentes que envolvessem
figuras representativas do poder eram transformados em verdadeiras celebrações,
como ocorreu quando um líder da SA de Berlim foi assassinado. As autoridades
alemãs encontraram logo motivo para a composição de um hino em sua homenagem
que, de imediato, passou a ser dos mais cantados nas celebrações nazistas. A
grandiosidade, a ordem rigorosa nas cerimônias, as cores e os espaços
reservados às festividades do partido constituíam, sempre, fatores de enorme
relevância psicológica. Todos os autores que estudaram o nazismo ressaltam o
significado desses espetáculos para a coesão do povo alemão em torno da “nova
ordem”. O próprio símbolo do regime, a suástica, era por muitos, interpretada,
alegoricamente, como uma mensagem de energia e de luz. As cerimônias fúnebres,
por sua vez, “alcançavam resultados deslumbrantes”, acentua um moderno
historiador alemão. Hinos e canções heroicas, estandartes, archotes e coroas
imprimiam aos cenários, condições capazes de galvanizar o enorme público que a
elas comparecia. Estudos recentes têm chamado atenção para o significado da
arte no desempenho e na manutenção do nazismo, nos quais a arquitetura e o
cinema estiveram sempre em evidências. O cinema em particular, representou
objeto constante de aproximação com o povo, mediante filmes não só de exaltação
dos triunfos militares alemães, mas, sobretudo, de propaganda anti-judaíca,
produzida numa tentativa de explicara chamada “solução final”, ou seja, o
extermínio do povo judeu. Toda essa estrutura polarizava-se na figura do führer
(“chefe”, “líder”), personificado em Adolf Hitler, cultuado em termos de
autêntica idolatria. Suas ideias mestras indicadas em Mein Kampf (“Minha
Luta”), livro que escreveu na prisão em 1923, vieram a ser o motor por
excelência do nazismo. Um dos meios para assegurar obediência foi o terror, que
teve na SS (Schutzstaffel, “Tropas de Proteção”) o seu agente mais atuante,
gigantesca organização com mais de 300 mil membros que controlava o aparelho
político do país. Ao mesmo tempo, uma legislação anti-semita foi promulgada,
proibindo o acesso dos judeus às mais variadas atividades profissionais ou
sociais. A juventude foi também, gradualmente, nazificada, não só
intelectualmente como através da formação de organizações juvenis. A
configuração do nazismo inclui ainda a prática de um regime ditatorial
exacerbado, o cerceamento das liberdades, a centralização absoluta do Estado e
a guerra como arma ideológica. A queda do nacional-socialismo ocorreu com a
derrota alemã em 1945. O nazismo foi oficialmente abolido em 4 de junho daquele
ano e os seus principais dirigentes, que sobreviveram à guerra, foram levados a
julgamento em tribunal na cidade de Nuremberg.
AZEVEDO, Antonio Carlos do Amaral. DICIONÁRIO DE NOMES, TERMOS E CONCEITOS
HISTÓRICOS. 3a ed, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999. pp
321-322.