Textos (verbetes) e questões selecionadas de vestibulares sobre o fascismo e nazismo
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Textos (verbetes) e questões selecionadas de vestibulares sobre o fascismo e nazismo
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Dois temas polêmicos e de grande relevância na sociedade brasileira estiveram presentes na prova de redação da UNICAMP 2023: a questão da proliferação das armas de fogo e a presença de um projeto de educação antirracista dentro do espaço escolar, confira as duas propostas abaixo:
REDAÇÃO - PROPOSTA 1 –– UNICAMP 2023
Uma amiga sua de escola foi vítima de um disparo acidental por arma de
fogo, realizado por uma pessoa que havia obtido porte de colecionador de armas
com base nos Decretos Federais 9.846/2019 e 10.627/2021. Um ano após a morte de
sua amiga, você foi informada/o de que um grupo de empresários de seu bairro
inauguraria um clube de tiro perto da sua casa. Preocupada/o, você decidiu convocar
uma reunião com a associação de moradores do seu bairro para discutirem providências
a serem tomadas a respeito. No seu texto de convocação, você deve:
a) destacar os perigos que envolvem
a abertura de um clube de tiro em seu bairro;
b) apresentar argumentos contrários
à posse e ao porte de armas de fogo; e, de modo mais amplo,
c) criticar uma política de
segurança pública baseada no armamento da população brasileira.
O seu texto deve,
obrigatoriamente, levar em conta a coletânea a seguir.
1. Dados do
Exército Brasileiro mostram que, entre janeiro de 2019 e maio de 2022, surgiram
1.006 clubes de tiro no Brasil. É quase um clube de tiro inaugurado por dia,
totalizando mais de 2 mil espaços como estes em todo o país. Paralelamente,
números divulgados pelo Anuário de Segurança Pública apontam um crescimento de
474% no número de pessoas que conseguiram o Certificado de Registro – documento
emitido pelo Exército –, que dá direito ao cidadão de exercer atividades como
Caçador, Atirador e Colecionador, os chamados CACs. Essa autorização também
inclui transitar com a arma no percurso entre a casa e o clube de tiro. A
abertura de clubes de tiros interessa ao setor econômico da indústria
armamentista, composta por indústrias de armas, empresários de clubes,
atiradores, influenciadores digitais, instrutores e todos que defendem o uso da
arma de fogo. Muitos desses estabelecimentos também trabalham com a venda de
armas e auxiliam o interessado com a documentação exigida para tirar o porte de
arma.
(Adaptado de SOBREIRA, Amanda. Como a política de armas de Bolsonaro
facilita crimes e arsenais como o de Roberto Jefferson. Brasil de Fato,
29/10/2022.)
2. O Instituto
Sou da Paz aponta que, atualmente no Brasil, mais de 880 mil armas de fogo
estão nas mãos de CACs. A lei em vigor permite que os atiradores comprem até 60
armas, sendo que 30 de uso restrito, como fuzis, além da compra anual de até
180 mil balas. Já os caçadores podem comprar até 30 armas, 15 delas de uso
restrito e até 6 mil balas. Para os colecionadores, a legislação não impõe
limite numérico.
(Adaptado de DEISTER, Jaqueline. O que os últimos homicídios cometidos por policiais significam no debate sobre armamento? Brasil de Fato, 20/07/2022.)
3. “Ter uma
arma triplica o risco de suicídio”, salienta David Hemenway, professor de saúde
pública da Universidade de Harvard. Várias de suas pesquisas concluíram que
estados onde há mais lares com armas têm taxas de suicídio mais altas,
particularmente suicídios por armas de fogo. A diferença seria explicada pelo
acesso mais fácil ao armamento, já que não havia nessas residências problemas de
saúde mental ou casos de pensamentos suicidas acima da média. Em análises da
relação entre disponibilidade de armas de fogo e mortes não intencionais,
homicídios e suicídios de mulheres e crianças, o professor Hemenway concluiu
que em estados com mais armas há mais mortes violentas nesses grupos. Outra
análise, comparando 25 países de renda alta, revelou que, onde há mais armas, há
mais homicídios de mulheres, com os Estados Unidos da América no topo da lista.
(Adaptado de CORRÊA, Alessandra. Armas são eficazes para defesa
pessoal? Por que este professor americano sustenta que esse discurso é mito.
BBC News Brasil, 18/09/2018.)
5. A
organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) tem utilizado os
decretos do presidente para adquirir legalmente armas de fogo. A política
facilita a compra de armamento para quem se registra como colecionador,
atirador ou caçador, apelidados de CACs.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, criminosos da facção têm
usado tal nomenclatura para as compras. Os equipamentos foram comprados com
autorização da lei atual – alguns por meio de “laranjas”, pessoas que adquirem
as armas para o grupo, mas também por criminosos com extensa ficha criminal.
(Adaptado de Notícias Uol – São Paulo. PCC utiliza
política dos CACs de Bolsonaro para comprar armas, diz jornal. 25/07/2022.)
6. O Instituto de Segurança Pública concluiu que o
combate à criminalidade se dá com novas formas de atuação das polícias,
principalmente no que tange às ações de inteligência e estrutura (armamento,
viaturas, coletes, contingente, informatização). Tais mecanismos, até então
utilizados pelo estado de São Paulo, ilustram o combate à criminalidade através
de políticas de segurança e de políticas públicas sociais.
(Adaptado de CAPEZ, Fernando. Controvérsias jurídicas. Segurança
pública e armamento da população civil. Consultor Jurídico, 14/04/2022.)
REDAÇÃO -
PROPOSTA 2 –– UNICAMP 2023
O colégio em que você estuda decidiu lançar um projeto de educação
antirracista. Antes de elaborar tal projeto, a direção resolveu escutar
estudantes, familiares, professoras/es e funcionárias/os sobre a questão da
discriminação racial no espaço escolar. Solicitou, então, que cada um desses
membros da comunidade escolar enviasse um depoimento, a ser mantido em sigilo.
Decidida/o a contribuir com esse projeto e compartilhar a sua experiência como
estudante do terceiro ano do ensino médio, você enviará o seu depoimento, no
qual deve:
a) declarar como se identifica racialmente;
b) relatar se já presenciou,
cometeu ou sofreu algum ato de racismo dentro do colégio e:
c) explicar como a diversidade
étnico-racial é tratada nesse espaço escolar: no currículo, ou nos conflitos
cotidianos, ou na contratação de professoras/es, ou na presença de alunas/os
negras/os.
O seu texto deve, obrigatoriamente, levar em conta a coletânea a seguir.
1. Antirracismo: postura, sentimento, movimento, conceito de oposição
ao racismo.
(Dicionário Caldas Aulete. Disponível em
https://www.aulete.com.br/antirracismo. Acesso em 01/09/2022.)
2. “As escolas trazem o racismo como uma questão entre duas pessoas, confundindo-o com bullying. Não o enxergam como um sistema que se retroalimenta e se reinventa”, explica Ednéia Gonçalves, diretora-executiva adjunta da Ação Educativa. Pensar uma educação antirracista envolve tratar da relação entre duas pessoas, mas também de permitir que todos tenham sua identidade e história acolhidas no espaço escolar. E o processo de acolhimento e de reconhecimento das identidades requer que a escola repense todas as suas dimensões: curricular, formativa, de atendimento, avaliação, material didático, arquitetura e rotina. Se a escola não tiver um trabalho constante, sério e intencional de autoestima, autocuidado, de valorização da cultura negra, vai ser muito difícil as pessoas se identificarem como negras. As escolas estão avançando, mas o racismo aparece muito nas dobras. Quando você esgarça, ele pula”, alerta Ednéia.
(Adaptado de Como pensar a construção de uma educação antirracista.
Centro de Referências em Educação Integral, 11/06/2019.)
4. Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá
diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da
população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo
da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas
no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na
formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas
social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2º
Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos
indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar,
em especial nas áreas de educação artística e de literatura e histórias
brasileiras.
(Adaptado de BRASIL. Palácio do Planalto. Lei nº 11.645, de 10/03/2008,
que altera a Lei nº 9.394, de 20/12/1996, modificada pela Lei n° 10.639, de
09/01/2003.)
5. “Há quase uma ausência do debate racial no campo da Educação. E esse silêncio nos leva a acreditar no mito da democracia racial. Mas os números revelam que não é assim”, explicou Iara Pires Viana, geógrafa e gestora da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais. Segundo ela, há uma relação intrínseca entre as desigualdades raciais e o direito de aprender. Iara defende que o papel da Educação para não reproduzir o racismo é o de denunciar a pedagogia das ausências, isto é, o racismo epistêmico, marcado em todo o processo de formação. Promover uma educação antirracista vai muito além de simplesmente combater as manifestações materiais do racismo cotidiano, como ofensas e xingamentos. Apesar de positivas, essas medidas não bastam para a construção de uma educação efetivamente inclusiva e equânime. A educação antirracista implica necessariamente a revisão do currículo, garantindo sua pluriversalidade, bem como a composição de um corpo docente etnicamente diverso.
Você deverá escolher apenas UMA das
propostas para desenvolver. Não se esqueça de marcar a proposta escolhida na
folha de resposta reservada para a Redação.
Fonte: https://www.comvest.unicamp.br/vest2023/F2/provas/2023F2redporingcn.pdf
Uma das novidades para o vestibular 2024 da UNICAMP é a nova lista de obras indicadas, entre a nova seleção destacamos as canções escolhidas da obra do sambista carioca Cartola, confira as 10 composições abaixo:
Canções escolhidas, de Cartola:
1.
Alvorada
2.
As rosas não falam
3.
Cordas de aço
4.
Disfarça e chora
5.
O inverno do meu tempo
6.
O mundo é um moinho
7.
Que é feito de você?
8.
Sala de recepção
9.
Silêncio de um cipreste
10.
Sim
Alvorada
Cartola,
Carlos Cachaça e Hermínio Bello Carvalho
Álbum
Cartola - 1974
Alvorada
lá no morro, que beleza
Ninguém
chora, não há tristeza
Ninguém
sente dissabor
O
sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E
a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
Alvorada
Alvorada
lá no morro, que beleza
Ninguém
chora, não há tristeza
Ninguém
sente dissabor
O
sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E
a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
Você
também me lembra a alvorada
Quando
chega iluminando
Meus
caminhos tão sem vida
E
o que me resta é bem pouco
Quase
nada, de que ir assim
Vagando
numa estrada perdida
Alvorada
Alvorada
lá no morro, que beleza
Ninguém
chora, não há tristeza
Ninguém
sente dissabor
O
sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E
a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
Alvorada
Alvorada
lá no morro, que beleza
Ninguém
chora, não há tristeza
Ninguém
sente dissabor
O
sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E
a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
Você
também me lembra a alvorada
Quando
chega iluminando
Meus
caminhos tão sem vida
E
o que me resta é bem pouco
Quase
nada, de que ir assim
Vagando
numa estrada perdida
Alvorada
Alvorada
lá no morro, que beleza
Ninguém
chora, não há tristeza
Ninguém
sente dissabor
E
a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
Alvorada
As
Rosas Não falam
Cartola
Álbum
Cartola - 1974
Bate
outra vez
Com
esperanças o meu coração
Pois
já vai terminando o verão
Enfim
Volto
ao jardim
Com
a certeza que devo chorar
Pois
bem sei que não queres voltar
Para
mim
Queixo-me
às rosas
Que
bobagem as rosas não falam
Simplesmente
as rosas exalam
O
perfume que roubam de ti, ai
Devias
vir
Para
ver os meus olhos tristonhos
E,
quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por
fim
Cordas de Aço
Cartola
Álbum
Cartola II - 1976
Ah,
essas cordas de aço
Este
minúsculo braço
Do
violão que os dedos meus acariciam
Ah,
este bojo perfeito
Que
trago junto ao meu peito
Só
você violão
Compreende
porque perdi toda alegria
E
no entanto meu pinho
Pode
crer, eu adivinho
Aquela
mulher
Até
hoje está nos esperando
Solte
o teu som da madeira
Eu
você e a companheira
Na
madrugada iremos pra casa
Cantando
Ah,
essas cordas de aço
Este
minúsculo braço
Do
violão que os dedos meus acariciam
Ah,
este bojo perfeito
Que
trago junto ao meu peito
Só
você violão
Compreende
porque perdi toda alegria
Disfarça
e Chora
Cartola
Álbum
Cartola - 1974
Chora, disfarça e chora
Aproveita a voz do lamento
Que já vem a aurora
A pessoa que tanto queria
Antes mesmo de raiar o dia
Deixou o ensaio por outra
Ó triste senhora
Disfarça e chora
Todo o pranto tem hora
E eu vejo seu pranto cair
No momento mais certo
Olhar, gostar só de longe
Não faz ninguém chegar perto
E o seu pranto, ó triste senhora
Vai molhar o deserto
Chora, disfarça e chora
Aproveita a voz do lamento
Que já vem a aurora
A pessoa que tanto queria
Antes mesmo de raiar o dia
Deixou a Escola por outra
Ó triste senhora
Disfarça e chora
Todo o pranto tem hora
E eu vejo seu pranto cair
No momento mais certo
Olhar, gostar só de longe
Não faz ninguém chegar perto
E o seu pranto, ó triste senhora
Vai molhar o deserto
Vai molhar o deserto
O Inverno do Meu tempo
Cartola
Surge
a alvorada
Folhas
a voar
E
o inverno do meu tempo começa
A
brotar, a minar
E
os sonhos do passado
No
passado estão presentes
No
amor...
E
não envelhece jamais
Eu
tenho paz
E
ela tem paz
Nossas
vidas
Muito
sofridas caminhos tortuosos
Entre
flores e espinhos demais
Já
não sinto saudade
Saudades
de nada que vi
O
inverno do tempo da vida
Oh
Deus e eu me sinto feliz
Surge
a alvorada
Folhas
a voar
E
o inverno do meu tempo começa
A
brotar, a minar
E
os sonhos do passado
No
passado estão presentes
No
amor...
E
não envelhece jamais
Eu
tenho paz
E
ela tem paz
Nossas
vidas
Muito
sofridas caminhos tortuosos
Entre
flores e espinhos demais
Já
não sinto saudade
Saudades
de nada que vi
O
inverno do tempo da vida
Oh
Deus e eu me sinto feliz
O
Mundo é um Moinho
Cartola
Álbum
Cartola II - 1976
Ainda
é cedo, amor
Mal
começaste a conhecer a vida
Já
anuncias a hora de partida
Sem
saber mesmo o rumo que irás tomar
Presta
atenção, querida
Embora
eu saiba que estás resolvida
Em
cada esquina cai um pouco tua vida
Em
pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me
bem, amor
Preste
atenção, o mundo é um moinho
Vai
triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai
reduzir as ilusões a pó
Preste
atenção, querida
De
cada amor, tu herdarás só o cinismo
Quando
notares, estás à beira do abismo
Abismo
que cavaste com teus pés
Ainda
é cedo, amor
Mal
começaste a conhecer a vida
Já
anuncias a hora de partida
Sem
saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste
atenção, querida
Embora
eu saiba que estás resolvida
Em
cada esquina cai um pouco a tua vida
Em
pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me
bem, amor
Preste
atenção, o mundo é um moinho
Vai
triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai
reduzir as ilusões a pó
Presta
atenção, querida
De
cada amor, tu herdarás só o cinismo
Quando
notares, estás à beira do abismo
Abismo
que cavaste com teus pés
O
que é feito de você?
Cartola
O
que é feito de você ó minha mocidade?
Ó
minha força, a minha vivacidade?
O
que é feito dos meus versos e do meu violão?
Troquei-os
sem sentir por um simples bastão
E
hoje quando passo a gurizada pasma
Horrorizada
como quem vê um fantasma
E
um esqueleto humano assim vai
Cambaleando
quase cai, não cai
Pés
inchados, passos em falso
O
olhar embaçado
Nenhum
amigo ao meu lado
Não
há por mim compaixão
A
tudo vou assistindo
A
ingratidão resistindo
Só
sinto falta dos meus versos
Da
mocidade e do meu violão
O
que é feito de você ó minha mocidade?
Ó
minha força, a minha vivacidade?
O
que é feito dos meus versos e do meu violão?
Troquei-os
sem sentir por um simples bastão
E
hoje quando passo a gurizada pasma
Horrorizada
como quem vê um fantasma
E
um esqueleto humano assim vai
Cambaleando
quase cai, não cai
Cambaleando
quase cai, não cai
Cambaleando
quase cai, não cai...
Sala
de Recepção
Cartola
Álbum
Cartola II - 1976
Habitada
por gente simples e tão pobre
Que
só tem o sol que a todos cobre
Como
podes, mangueira, cantar?
Pois
então saiba que não desejamos mais nada
A
noite, a lua prateada
Silenciosa,
ouve as nossas canções
Tem
lá no alto um cruzeiro
Onde
fazemos nossas orações
E
temos orgulho de ser os primeiros campeões
Eu
digo e afirmo que a felicidade aqui mora
E
as outras escolas até choram
Invejando
a tua posição
Minha
mangueira essa sala de recepção
Aqui
se abraça inimigo
Como
se fosse irmão
Habitada
por gente simples e tão pobre
Que
só tem o sol que a todos cobre
Como
podes, mangueira, cantar?
Pois
então saiba que não desejamos mais nada
A
noite, a lua prateada
Silenciosa,
ouve as nossas canções
Tem
lá no alto um cruzeiro
Onde
fazemos nossas orações
E
temos orgulho de ser os primeiros campeões
Eu
digo e afirmo que a felicidade aqui mora
E
as outras escolas até choram
Invejando
a tua posição
Minha
mangueira essa sala de recepção
Aqui
se abraça inimigo
Como
se fosse irmão
Habitada
por gente simples e tão pobre
Que
só tem o sol que a todos cobre
Como
podes, mangueira, cantar?
Pois
então saiba que não desejamos mais nada
A
noite, a lua prateada
Silenciosa,
ouve as nossas canções
Tem
lá no alto um cruzeiro
Onde
fazemos nossas orações
E
temos orgulho de ser os primeiros campeões
Silencio
de um cipreste
Cartola
Todo
mundo tem o direito
De
viver cantando
O
meu único defeito
É
viver pensando
Em
que não realizei
E
é difícil realizar
Se
eu pudesse dar um jeito
Mudaria
o meu pensar
Todo
mundo tem o direito
De
viver cantando
O
meu único defeito
É
viver pensando
Em
que não realizei
E
é difícil realizar
Se
eu pudesse dar um jeito
Mudaria
o meu pensar
O
pensamento é uma folha desprendida
Do
galho de nossas vidas
Que
o vento leva e conduz
É
uma luz vacilante e cega
É
o silêncio do cipreste
Escoltado
pela cruz
Todo
mundo tem o direito
De
viver cantando
O
meu único defeito
É
viver pensando
Em
que não realizei
E
é difícil realizar
Se
eu pudesse dar um jeito
Mudaria
o meu pensar
Todo
mundo tem o direito
De
viver cantando
O
meu único defeito
É
viver pensando
Em
que não realizei
E
é difícil realizar
Se
eu pudesse dar um jeito
Mudaria
o meu pensar
O
pensamento é uma folha desprendida
Do
galho de nossas vidas
Que
o vento leva e conduz
É
uma luz vacilante e cega
É
o silêncio do cipreste
Escoltado
pela cruz
Sim
Cartola
Álbum
Cartola - 1974
Sim
Deve
haver o perdão
Para
mim
Senão
nem sei qual será
O
meu fim
Para
ter uma companheira
Até
promessas fiz
Consegui
um grande amor
Mas
eu não fui feliz
E
com raiva para os céus
Os
braços levantei
Blasfemei
Hoje
todos são contra mim
Sim
Deve
haver o perdão
Para
mim
Senão
nem sei qual será
O
meu fim
Para
ter uma companheira
Até
promessas fiz
Consegui
um grande amor
Mas
eu não fui feliz
E
com raiva para os céus
Os
braços levantei
Blasfemei
Hoje
todos são contra mim
Todos
erram neste mundo
Não
há exceção
Quando
voltam à realidade
Conseguem
perdão
Porque
é que eu, Senhor
Que
errei pela vez primeira
Passo
tantos dissabores
E
luto contra a humanidade inteira?
Sim
Deve
haver o perdão
Para
mim
Senão
nem sei qual será
O
meu fim
Para
ter uma companheira
Até
promessas fiz
Consegui
um grande amor
Mas
eu não fui feliz
E
com raiva para os céus
Os
braços levantei
Blasfemei
Hoje
todos são contra mim
Sim
Deve
haver o perdão
CARTOLA
(1908- 1980)
FINDA A TEMPESTADE, O SOL RENASCEU
Numa certa noite, em 1935, o
musicólogo Brasílio Itiberê visitou o morro da Mangueira. E foi recebido, na
ponte sobre a linha férrea, por um grupo de ritmistas e pastoras da escola de
samba Estação Primeira. Feitas as apresentações, a comitiva subiu em cortejo.
E, como era de praxe, ao som do coro e da bateria; tendo à frente a baliza e a
porta-estandarte; e sob o comando do apito do mestre de harmonia. Profundamente
impressionado por essa visita, Itiberê fez sobre ela um relato minucioso, no
qual fala de seu encantamento com um samba em especial, "Tragédia":
"Prestai bem atenção que este é um samba do Cartola!", escreveu em
seu Mangueira, Montmartre e outras favelas. "Não ouvireis tão cedo um
canto assim tão puro, nem linha melódica tão larga e ondulante. Atentai como é
bela, e como oscila e boia, sem pousar, entre a marcação dos 'surdos' e a trama
cerrada dos tamborins", desmanchou-se.
Talvez em busca de um bom
"gancho", em 2008, algumas pautas jornalísticas tentaram associar o
centenário da morte de Machado de Assis ao de nascimento do compositor Cartola.
Chegou-se até a especular se Cartola teria sido o "Machado de Assis do
samba". Bobagem! Afinidades entre os dois, se as houve, foram, obviamente,
as de origem étnica, além daquelas devidas ao grande talento de ambos, cada um
em seu lugar. Porque, até na propalada vivência no "morro", Machado e
Cartola foram muito diferentes.
O menino Joaquim Maria foi criado no
morro do Livramento, na época ainda um conjunto de chácaras, e não um amontoado
de casebres, como seria regra geral depois no Rio. Já Cartola, nascido Agenor
de Oliveira, no dia 11 de outubro de 1908, no bairro do Catete, portal da Zona
Sul, passou boa parte da infância na rua das Laranjeiras, então já servida por
bondes elétricos, vizinho de insignes figuras, hoje com seus nomes sonoros em
placas de ruas.
O compositor fascinante, que encantou
o musicólogo Itiberê, já estava desde 1920 na Mangueira, então uma favela
incipiente. Morrera-lhe o avô, sustentáculo da família, e a vida teve de mudar.
Mas a semente de uma instrução pública rigorosa, como era a daqueles tempos,
plantada em terreno fértil, frutificou. E como! Era 1935. E o compositor já
tinha alguns belos sambas gravados por artistas famosos, como Francisco Alves,
Carmem Miranda e Silvio Caldas. Só que, de repente, "tudo acabado, o baile
encerrado" — como diz um de seus sambas.
É que em 1928, por força de lei, os
compositores musicais foram equiparados, em termos de direitos autorais, aos
autores de teatro. Abria-se, então, um novo campo profissional, num setor ainda
inexplorado. E a turma da música teve que se abrigar sob as asas da Sociedade
Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), que, por seu] perfil aristocrático, não
os viu com bons olhos.
Logo, logo, instaurou. se o conflito:
de um lado, a SBAT; do outro, os compositores populares. Sim, populares
(alunos, à distância, dos fundadores do samba), mas de paletó e gravata e até “anel
no dedo”.
Os quais, assim, e, dizem, com
dinheiro vindo de fora, organizaram-se em associação, para protagonizar os
primeiros momentos da história dos direitos autorais musicais no Brasil.
Enquanto isso, de longe, na calçada do outro lado da rua, olhando o burburinho
do Café Nice, os pretinhos do samba não entendiam bem o que se passava.
Frustrados em sua expectativa de
ascensão social por meio de sua arte, os sambistas continuaram em seus biscates
e "virações", ocasionalmente de cunho artístico. E Cartola, mesmo
admirado por Villa-Lobos e elogiado até pelo célebre maestro inglês Leopold
Stokowski — que o ouviu no Rio em 1940 —, não foi exceção.
Por outro lado, em 1945, as rixentas
sociedades autorais celebravam um armistício. No acordo, a SBAT ficava com os
direitos de teatro, que até bem pouco tempo ainda eram chamados "grandes
direitos", e os compositores "populares" ficavam com os
"peque-nos". E assim o pessoal do Estácio, do Salgueiro, da
Mangueira, de Oswaldo Cruz foi mesmo saindo de cena. Cartola, pobre e doente, foi
junto, no mesmo momento em que se consagrava a categorização "samba de
morro", distinta dos sambas feitos pelos compositores efetivamente
"do rádio".
Mas o destino, sábio, fez com que as
escolas de samba crescessem em importância — e, com elas, Cartola se
consolidasse como um verdadeiro mito. E isso aconteceu apesar de, em 1951, ele
ter passado o bastão da harmonia mangueirense ao ex-portelense Olivério
Ferreira, o famoso Xangô da Mangueira até porque a "harmonia", no
sentido técnico de conjunto de regras da tonalidade, ou de sons relacionados,
não cabia mais nas escolas, as quais, já aí, sustentavam-se apenas na
percussão.
Nos anos 1950 e 1960, então, Cartola,
depois de comer o pão que o diabo amassou e ser dado como morto e acabado, veio
vindo de novo superfície. Primeiro, escorado aqui e ali, com um emprego subalterno
em um ministério, conseguido por um político amigo; também com a abertura do
restaurante e casa de shows Zicartola, com o capital de amigos bancando a
aventura por eles mesmos inventada, Depois, com as gravações de "O sol
nascerá", por Elis Regina, em 1964 e 'Alvorada", por Clara Nunes,
em 1972 -- e das regravações de grandes sambas compostos no passado —, além do
infalível e admirável companheirismo de dona Zica, mulher pra toda obra... Até
que veio o êxito.
Entre 1974 e 1979, com "As rosas
não falam", "O mundo é um moinho" e "Peito vazio",
entre outras composições, com ou sem parceiros, Cartola, com dois LPs gravados
em sua própria voz, chegou onde sempre deveria estar. Mas a
"indesejada" logo cobrou seu tributo. E a 30 de novembro de 1980 o
levou.
Cartola, como se diz por aí,
"tinha tudo pra dar errado". Mas não deu. A ponto de, em 2008,
tentarem compará-lo a Machado de Assis, o que, para mim, repito, é uma bobagem.
Machado de Assis — que muitos ainda
insistem em não ver como um afrodescendente — é a reluzente imortalidade
acadêmica. Cartola, negro, favelado, compositor popular, sambista e, apesar de
tudo, um mito, é símbolo de resistência. Brilhante; também.
Fonte: LOPES, Nei. Afro-Brasil Reluzente – 100 Personalidades Notáveis do Século. Rio
de Janeiro, Nova Fronteira, 2019. pp.39-42
Veja
também:
https://radiobatuta.ims.com.br/playlists/cartola-sao-muitos
https://radiobatuta.ims.com.br/podcasts/musica-negra-do-brasil
https://www.itaucultural.org.br/secoes/noticias/anos-cartola
Lista de Obras Indicadas – Vestibular UNICAMP - 2024
A
Tarde (Olavo Bilac)
Olhos
d’água (Conceição Evaristo)
Carta
de Achamento a el-rei D. Manuel (Pero
Vaz de Caminha)
Casa
Velha (Machado de Assis)
O
Ateneu (Raul Pompeia)
Niketche
- uma História de Poligamia (Paulina Chiziane)
“Seminário
dos ratos” (Lygia Fagundes Telles)
Canções
escolhidas (Cartola)
Alice
no país das maravilhas (Lewis Carroll)