“Desafios para a valorização da herança africana no Brasil" - Redação ENEM 2024
enem2024
Exame Nacional do Ensino Médio
INSTRUÇOES PARA A REDAÇÃO
1. O rascunho da redação deve ser
feito no espaço apropriado.
2. O texto definitivo deve ser
escrito à tinta preta, na folha própria, em até 30 (trinta) linhas.
3. A redação que apresentar cópia dos
textos da Proposta de Redação ou do Caderno ou do Caderno de Questões terá o
número de linhas copiadas desconsiderado para a contagem de Linhas.
4. Receberá nota zero, em qualquer
das situações expressas a seguir, a redação que:
4.1. tiver até 7 (sete) linhas
escritas, sendo considerada “texto insuficiente”;
4.2. fugir ao lema ou não atender ao
tipo dissertativo-argumentativo:
4.3. apresentar parte do texto
deliberadamente desconectada do lema proposto:
4.4. apresentar nome, assinatura,
rubrica ou outras formas de identificação no espaço destinado ao texto.
TEXTO I
Herança - o legado de crenças,
conhecimentos, técnicas, costumes, tradições, transmitido por um grupo social
de geração para geração; cultura.
HOUAISS. A ; VILLAR. M S dicionário
Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro Objetiva. 2009 (adaptado).
TEXTO II
As culturas africanas e
afro-brasileiras foram relegadas ao campo do folclore com o propósito de confiná-las
ao gueto fossilizado da memória. Folclorizar nesse caso, é reduzir uma cultura
a um conjunto de representações estereotipadas, via de regra, alheias ao contexto
que produziu essa cultura.
OLIVEIRA, E. D A epistemologia da
ancestralidade Entrelugares revista de sociopoética e abordagens afins, 2009.
TEXTO III
PAULINO,
R. Ainda a lamentar In GONÇALVES, A M Um Defeito de Cor - romance Rio de
Janeiro Record, 2024 (adaptado)
TEXTO IV
História afro-brasileira nas escolas:
professoras
comentam avanços e dificuldades
As aulas sobre escravidão eram motivo
de vergonha para uma professora quando ela estudava em uma escola municipal na
zona sul de São Paulo. ”Era o meu pior momento na escola", lembra a
ex-aluna, Naquela época, a história da população negra no Brasil era reduzida
ao horror do período escravocrata. Não se falava na escola sobre temas como a
história e a cultura afro-brasileira, muito menos sobre as grandes
personalidades negras do país, como Luiz Gama e Carolina Maria de Jesus.
A pedagoga, que é negra, tem orgulho
de oferecer uma experiência diferente da que viveu em sala de aula para seus
alunos. Agora os livros infantis levados para as turmas têm protagonistas
pretos. Temas como a beleza do cabelo crespo e o combate ao racismo fazem parte
do dia a dia da escola.
Alunos
de escola municipal conhecem pontos do Rio que retratam
relação com a África
Alunos admiram grafite de Zumbi dos
Palmares na Pedra do Sal.
Disponível em www.oglobo.com. Acesso em 29 maio 2024 (adaptado)
PROPOSTA DE REDAÇAO
A partir da leitura dos textos
motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da Língua
portuguesa sobre o tema“Desafios para a valorização da herança africana no
Brasil", apresentando proposta de intervenção
que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma
coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS
E REDAÇÃO • 1° DIA • CADERNO 4 • VERDE
Entre as 72 questões do vestibular da UNICAMP - 2025, tivemos 8 questões trazendo a temática étnico-racial, África e Cultura Negra - foram 05 questões de Ciências Humanas, 02 questões em Linguagens (Inglês), 01 questão de Ciências da Natureza. Veja as questões presentes na Prova Q-Z
QUESTÃO 03
Originário do continente americano, o
cacau pôde se difundir em regiões africanas com características naturais
similares às encontradas na América do Sul, de tal modo que, na atualidade, o continente
africano se tornou o maior produtor e exportador de cacau do mundo, sendo elo
fundamental dos circuitos espaciais de produção, distribuição e consumo do
chocolate no mundo.
Indique a principal região cacaueira
do continente africano, associando-a às condições socioambientais de produção.
a) África ocidental, na costa do
Golfo da Guiné, em áreas de floresta equatorial-tropical; cultivo sob forte
custo ecológico e colheita manual.
b) África setentrional, na costa do
Estreito de Gibraltar, em áreas de floresta mediterrânea; cultivo com manejo
sustentável da floresta e colheita mecanizada.
c) África ocidental, na costa do
Golfo da Guiné, em áreas de floresta mediterrânea; cultivo com manejo
sustentável da floresta e colheita mecanizada.
d) África setentrional, na costa do
Estreito de Gibraltar, em áreas de floresta equatorial-tropical; cultivo sob
forte custo ecológico e colheita manual
Texto 1
The fact that so few African
Americans write science fiction is perplexing since they, in a very real sense,
inhabit a sci-fi nightmare in which unseen but no less palpable acts of
intolerance frustrate their movement; official histories undo what has been
done; and technology is too often brought to bear on black bodies. Moreover,
the sublegitimate status of science fiction in literature mirrors the subaltern
position to which blacks have been relegated throughout American history. The
notion of Afrofuturism gives rise to a troubling antinomy: can a community
whose past has been deliberately rubbed out, and whose energies have been consumed
by the search for legible traces of its history, imagine possible futures?
(Adaptado de
DERY, M. Black to the future: interviews with Samuel R. Delany, Greg Tate, and
Tricia Rose. In: ___. (Ed.) The Discourse of cyberculture. Durham; London: Duke
University Press, p. 179-222, 1994.)
QUESTÃO 18
De acordo com o texto 1, a escassez
de autores afro-americanos em obras de ficção científica representa um
a) pesadelo que retrata o apagamento
sistemático dos avanços culturais da comunidade negra.
b) protesto contra o processo de
exclusão e de subalternização dessas pessoas na sociedade.
c) movimento explícito que tem por
objetivo deslegitimar o passado e a história do movimento negro.
d) paradoxo que se deve à semelhança
entre as violências que vivem e ações retratadas nessas obras
Para responder questão 19, leia o
texto 2 e retome o texto 1.
Texto 2
“Parable of the Talents”
(Octavia E. Butler)
“To survive,
Let the past
Teach you--
Past customs,
Struggles,
Leaders and thinkers.
Let
These
Help you.
Let them inspire you,
Warn you,
Give you strength.
But beware:
God is Change.
Past is past.
What was
Cannot
Come again.
To survive,
know the past.
Let it touch you.
Then let
The past Go.”
(BUTLER, Octavia E. Parable of the
Talents. New York, Durham and London: Open Road, 1998.)
QUESTÃO 19
O texto 2 toca em um aspecto central
do afrofuturismo e reme[1]te
ao tema do questionamento do texto 1. Assim, pode-se dizer que o poema reconhece que
a) o passado pode contribuir para a
construção de futuros possíveis, mas não pode ser repetido.
b) a imaginação de futuros possíveis
está condicionada ao ensino sobre líderes religiosos do passado.
c) o apagamento do passado pode
trazer ensinamentos, mas isso não garante a criação de futuros possíveis.
d) a sobrevivência em futuros
possíveis requer que os costumes e as dores do passado sejam esquecidos.
QUESTÃO 24
Quando eu falo em adiar o fim do
mundo, não é a este mundo em colapso que estou me referindo. Este tem um
esquema tão violento que eu queria mais é que ele desaparecesse à meia noite de
hoje e que amanhã a gente acordasse em um novo. No entanto, efetivamente,
estamos atuando no sentido de uma transfiguração, desejando aquilo que o Nêgo
Bispo chama de confluências, e não essa exorbitante euforia da monocultura, que
reúne os birutas que celebram a necropolítica sobre a vida plural dos povos
deste planeta. Ao contrário do que estão fazendo, confluências evoca um
contexto de mundos diversos que podem se afetar. (...) Se o colonialismo nos
causou um dano quase irreparável foi o de afirmar que somos todos iguais.
(Adaptado de
KRENAK, Ailton. Futuro ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, p. 40-42,
2022.)
Assinale a alternativa que explicita
a crítica de Krenak à mono[1]cultura,
tal como é enunciada no excerto.
a) A monocultura praticada nos
grandes latifúndios é responsável por diversos problemas ambientais e pela necropolítica.
b) A monocultura, assim como a
imposição colonial de um modelo cultural único, se expressa na recusa da
pluralidade de povos e culturas.
c) Adiar o fim do mundo requer o
combate à monocultura na produção agrícola e a transfiguração deste mundo em
que estamos vivendo.
d) A monocultura, produtora de
violências, é resultado do colonialismo e da necropolítica
QUESTÃO 29
A figura a
seguir é a reprodução de uma capa do “Boletim de Eugenia”, de onde foi extraído
o excerto transcrito ao abaixo
“Em fevereiro
de 1929, a Inspetoria de Educação Sanitária e Centros de Saúde promoveram em São
Paulo o primeiro concurso de Eugenia para eleger o bebê eugênico. O Boletim de
Eugenia comentava a repercussão que o concurso teve na grande imprensa e estampava
em sua capa a criança de 3 anos que ganhou o prêmio. Os critérios de julgamento
do concurso visavam à promoção de: 'proles sadias e belas, para a organização
de um ensaio de patronagem da futura elite nacional de eugenizados; finalmente,
contribuía com preciosos elementos para estudos relativos à hereditariedade, ao
meio social e familiar, ao cruzamento de raças'.”
(Adaptado de
Boletim de Eugenia, 1(5), p.1, maio de 1929.)
Com base em
seus conhecimentos sobre o ideário eugênico e seu contexto, e tendo em vista
elementos do excerto, assinale a alternativa correta.
a) Uma criança
considerada saudável seria branca e oriunda de uma família numerosa, o que
atestaria a pureza racial da família e a superioridade reprodutiva da mulher.
b) A ideologia
do “aperfeiçoamento da raça” demandava políticas públicas para superação das
desigualdades entre negros e brancos nas grandes cidades.
c) Em sua busca
por tratamentos alternativos ao “robusteci[1]mento” do corpo e
“aperfeiçoamento racial”, a medicina eugênica opunha-se às práticas
científicas.
d) Tanto o
autoritarismo contra os pobres quanto a obrigatoriedade das vacinas criadas
pelo serviço sanitário eugênico provocaram grandes revoltas populares na década
de 1930.
QUESTÃO 30
A maioria dos países africanos
tornaram-se independentes entre 1950 e 1975. Amílcar Cabral foi uma das
lideranças que formularam projetos políticos para criar unidades nacionais no
pós-independência. Ele havia nascido na Guiné-Bissau em 1924; depois de seu
nascimento, sua família se mudou para Cabo Verde. Em 1945, obteve bolsa para
estudar em Portugal; na Europa, entrou, então, em contato com as teorias do movimento
da negritude, panafricanismo e marxismo. De volta à África em 1952, ajudou a
fundar o Partido Africano para a Independência de Guiné e Cabo Verde (PAIGC,
1953), iniciando a luta armada contra a metrópole em 1963. Em um discurso, Cabral
afirmou: “No nosso Partido ninguém dividiu; pelo contrário, cada dia nos unimos
mais. Aqui não há papel, nem fula, nem mandinga, nem filhos de caboverdianos,
nada disso.”
(Adaptado de
MALACCO, F. Unidade nacional e unidade continental: uma discussão acerca dos
projetos políticos de Amílcar Cabral e Kwame Nkrumah. Revista Ars Historica, 17,
p. 78-100, jul/dez 2018.)
Com base no excerto, marque a
alternativa correta sobre o ideário nacional proposto por Amílcar Cabral e pelo
movimento por ele liderado.
a) Almejava, com base nas fronteiras
dos reinos africanos que existiam antes da chegada dos europeus, construir
nações independentes.
b) Buscava formar, para o
enaltecimento das identidades étnicas que antecediam o colonialismo, uma grande
unida[1]de
pan-africanista.
c) Propunha um movimento de
descolonização das culturas africanas, o qual demandava a adoção de dialetos
locais e a rejeição, como idioma nacional, das línguas europeias.
d) Defendia, para fortalecer a luta
contra a colonização e ideologia portuguesa, as unidades políticas nacionais
posiciona[1]das
acima da diversidade de etnias africanas.
QUESTÃO 45
Em “Sonhos para adiar o fim do
mundo”, o pensador Ailton Krenak conta-nos que um pajé Xavante sonhou que a
terra fi[1]caria
desolada diante da ação predatória dos homens brancos. Escreve Krenak no livro:
“Foi ali que eu atinei que tinha algo na perspectiva dos povos indígenas, em
nosso jeito de observar e pensar, que poderia abrir uma fresta de entendimento
nesse entorno que é o mundo do conhecimento. Naquele tempo eu comecei a visitar
as florestas (...) e, por todos os lados, os pajés diziam: ‘vocês precisam
tomar cuidado porque o mundo dos brancos está invadindo a nossa existência.’
Invadindo.”.
(KRENAK, A. A vida não é útil. São
Paulo: Companhia das Letras, p. 35-36, 2020.)
No trecho, as preocupações dos pajés
evocam
a) o trauma de variados povos
indígenas das florestas, decorrente das frestas de entendimento sobre o passado
colonial extrativista.
b) a adoção da diversidade de
perspectivas, embora os homens brancos reconheçam a falibilidade do sistema de
dominação presente.
c) a diferença de perspectivas na
relação homem-natureza, com a valorização da busca de um conhecimento não predatório.
d) a resistência indígena a partir do
sonho de que os homens brancos deixem de ameaçar a existência dos povos originários.
QUESTÃO 66
Rosana Paulino é uma artista visual
brasileira e suas obras têm foco nas questões sociais, étnicas e de gênero. A
obra a seguir foi exposta na 35ª Bienal de São Paulo (2023) e promove a
integração da arte com a natureza brasileira, retratando um importante
ecossistema costeiro
(Adaptado de
https://www.rosanapaulino.com.br/blank-5. Acesso em 02/04/2024.)
Tendo em vista seus conhecimentos
sobre biologia e considerando a obra apresentada, é correto afirmar que
a) as árvores com raízes expostas
representam a vegetação halófita característica de áreas alagadiças dos
manguezais, sendo o solo úmido, salino, pobre em oxigênio e rico em nutrientes.
b) os caranguejos são crustáceos e
constituem a base de uma extensa cadeia alimentar, característica de áreas
lodosas das restingas, com solo arenoso, pobre em nutrientes e em oxigênio.
c) as árvores com raízes aéreas
representam a vegetação xerófita característica de áreas lodosas das restingas,
sendo o solo arenoso, salobre, rico em carbono e em matéria orgânica.
d) os caranguejos são moluscos
característicos de áreas alagadiças dos manguezais, habitam o solo úmido e
salino, se alimentam da matéria orgânica em decomposição e de uma variedade de
pequenos animais.com a valorização da busca de um conhecimento não predatório.
Dois temas polêmicos e de grande relevância na sociedade brasileira estiveram presentes na prova de redação da UNICAMP 2023: a questão da proliferação das armas de fogo e a presença de um projeto de educação antirracista dentro do espaço escolar, confira as duas propostas abaixo:
REDAÇÃO -
PROPOSTA 1 –– UNICAMP 2023
Uma amiga sua de escola foi vítima de um disparo acidental por arma de
fogo, realizado por uma pessoa que havia obtido porte de colecionador de armas
com base nos Decretos Federais 9.846/2019 e 10.627/2021. Um ano após a morte de
sua amiga, você foi informada/o de que um grupo de empresários de seu bairro
inauguraria um clube de tiro perto da sua casa. Preocupada/o, você decidiu convocar
uma reunião com a associação de moradores do seu bairro para discutirem providências
a serem tomadas a respeito. No seu texto de convocação, você deve:
a) destacar os perigos que envolvem
a abertura de um clube de tiro em seu bairro;
b) apresentar argumentos contrários
à posse e ao porte de armas de fogo; e, de modo mais amplo,
c) criticar uma política de
segurança pública baseada no armamento da população brasileira.
O seu texto deve,
obrigatoriamente, levar em conta a coletânea a seguir.
1.Dados do
Exército Brasileiro mostram que, entre janeiro de 2019 e maio de 2022, surgiram
1.006 clubes de tiro no Brasil. É quase um clube de tiro inaugurado por dia,
totalizando mais de 2 mil espaços como estes em todo o país. Paralelamente,
números divulgados pelo Anuário de Segurança Pública apontam um crescimento de
474% no número de pessoas que conseguiram o Certificado de Registro – documento
emitido pelo Exército –, que dá direito ao cidadão de exercer atividades como
Caçador, Atirador e Colecionador, os chamados CACs. Essa autorização também
inclui transitar com a arma no percurso entre a casa e o clube de tiro. A
abertura de clubes de tiros interessa ao setor econômico da indústria
armamentista, composta por indústrias de armas, empresários de clubes,
atiradores, influenciadores digitais, instrutores e todos que defendem o uso da
arma de fogo. Muitos desses estabelecimentos também trabalham com a venda de
armas e auxiliam o interessado com a documentação exigida para tirar o porte de
arma.
(Adaptado de SOBREIRA, Amanda. Como a política de armas de Bolsonaro
facilita crimes e arsenais como o de Roberto Jefferson. Brasil de Fato,
29/10/2022.)
2.O Instituto
Sou da Paz aponta que, atualmente no Brasil, mais de 880 mil armas de fogo
estão nas mãos de CACs. A lei em vigor permite que os atiradores comprem até 60
armas, sendo que 30 de uso restrito, como fuzis, além da compra anual de até
180 mil balas. Já os caçadores podem comprar até 30 armas, 15 delas de uso
restrito e até 6 mil balas. Para os colecionadores, a legislação não impõe
limite numérico.
(Adaptado de DEISTER, Jaqueline. O que os últimos homicídios cometidos
por policiais significam no debate sobre armamento? Brasil de Fato,
20/07/2022.)
3.“Ter uma
arma triplica o risco de suicídio”, salienta David Hemenway, professor de saúde
pública da Universidade de Harvard. Várias de suas pesquisas concluíram que
estados onde há mais lares com armas têm taxas de suicídio mais altas,
particularmente suicídios por armas de fogo. A diferença seria explicada pelo
acesso mais fácil ao armamento, já que não havia nessas residências problemas de
saúde mental ou casos de pensamentos suicidas acima da média. Em análises da
relação entre disponibilidade de armas de fogo e mortes não intencionais,
homicídios e suicídios de mulheres e crianças, o professor Hemenway concluiu
que em estados com mais armas há mais mortes violentas nesses grupos. Outra
análise, comparando 25 países de renda alta, revelou que, onde há mais armas, há
mais homicídios de mulheres, com os Estados Unidos da América no topo da lista.
(Adaptado de CORRÊA, Alessandra. Armas são eficazes para defesa
pessoal? Por que este professor americano sustenta que esse discurso é mito.
BBC News Brasil, 18/09/2018.)
5.A
organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) tem utilizado os
decretos do presidente para adquirir legalmente armas de fogo. A política
facilita a compra de armamento para quem se registra como colecionador,
atirador ou caçador, apelidados de CACs.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, criminosos da facção têm
usado tal nomenclatura para as compras. Os equipamentos foram comprados com
autorização da lei atual – alguns por meio de “laranjas”, pessoas que adquirem
as armas para o grupo, mas também por criminosos com extensa ficha criminal.
(Adaptado de Notícias Uol – São Paulo. PCC utiliza
política dos CACs de Bolsonaro para comprar armas, diz jornal. 25/07/2022.)
6.O Instituto de Segurança Pública concluiu que o
combate à criminalidade se dá com novas formas de atuação das polícias,
principalmente no que tange às ações de inteligência e estrutura (armamento,
viaturas, coletes, contingente, informatização). Tais mecanismos, até então
utilizados pelo estado de São Paulo, ilustram o combate à criminalidade através
de políticas de segurança e de políticas públicas sociais.
(Adaptado de CAPEZ, Fernando. Controvérsias jurídicas. Segurança
pública e armamento da população civil. Consultor Jurídico, 14/04/2022.)
REDAÇÃO -PROPOSTA 2 –– UNICAMP 2023
O colégio em que você estuda decidiu lançar um projeto de educação
antirracista. Antes de elaborar tal projeto, a direção resolveu escutar
estudantes, familiares, professoras/es e funcionárias/os sobre a questão da
discriminação racial no espaço escolar. Solicitou, então, que cada um desses
membros da comunidade escolar enviasse um depoimento, a ser mantido em sigilo.
Decidida/o a contribuir com esse projeto e compartilhar a sua experiência como
estudante do terceiro ano do ensino médio, você enviará o seu depoimento, no
qual deve:
a) declarar como se identifica racialmente;
b) relatar se já presenciou,
cometeu ou sofreu algum ato de racismo dentro do colégio e:
c) explicar como a diversidade
étnico-racial é tratada nesse espaço escolar: no currículo, ou nos conflitos
cotidianos, ou na contratação de professoras/es, ou na presença de alunas/os
negras/os.
O seu texto deve, obrigatoriamente, levar em conta a coletânea a seguir.
1. Antirracismo: postura, sentimento, movimento, conceito de oposição
ao racismo.
(Dicionário Caldas Aulete. Disponível em
https://www.aulete.com.br/antirracismo. Acesso em 01/09/2022.)
2.“As escolas
trazem o racismo como uma questão entre duas pessoas, confundindo-o com
bullying. Não o enxergam como um sistema que se retroalimenta e se reinventa”,
explica Ednéia Gonçalves, diretora-executiva adjunta da Ação Educativa. Pensar
uma educação antirracista envolve tratar da relação entre duas pessoas, mas
também de permitir que todos tenham sua identidade e história acolhidas no
espaço escolar. E o processo de acolhimento e de reconhecimento das identidades
requer que a escola repense todas as suas dimensões: curricular, formativa, de
atendimento, avaliação, material didático, arquitetura e rotina. Se a escola
não tiver um trabalho constante, sério e intencional de autoestima,
autocuidado, de valorização da cultura negra, vai ser muito difícil as pessoas
se identificarem como negras. As escolas estão avançando, mas o racismo aparece
muito nas dobras. Quando você esgarça, ele pula”, alerta Ednéia.
(Adaptado de Como pensar a construção de uma educação antirracista.
Centro de Referências em Educação Integral, 11/06/2019.)
4.Art. 26-A.
Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e
privados, torna-se obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e
indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá
diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da
população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo
da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas
no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na
formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas
social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2º
Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos
indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar,
em especial nas áreas de educação artística e de literatura e histórias
brasileiras.
(Adaptado de BRASIL. Palácio do Planalto. Lei nº 11.645, de 10/03/2008,
que altera a Lei nº 9.394, de 20/12/1996, modificada pela Lei n° 10.639, de
09/01/2003.)
5.“Há quase
uma ausência do debate racial no campo da Educação. E esse silêncio nos leva a
acreditar no mito da democracia racial. Mas os números revelam que não é
assim”, explicou Iara Pires Viana, geógrafa e gestora da Secretaria Estadual de
Educação de Minas Gerais. Segundo ela, há uma relação intrínseca entre as
desigualdades raciais e o direito de aprender. Iara defende que o papel da Educação
para não reproduzir o racismo é o de denunciar a pedagogia das ausências, isto
é, o racismo epistêmico, marcado em todo o processo de formação. Promover uma
educação antirracista vai muito além de simplesmente combater as manifestações
materiais do racismo cotidiano, como ofensas e xingamentos. Apesar de
positivas, essas medidas não bastam para a construção de uma educação efetivamente
inclusiva e equânime. A educação antirracista implica necessariamente a revisão
do currículo, garantindo sua pluriversalidade, bem como a composição de um
corpo docente etnicamente diverso.
(Adaptado de O papel central da escola no enfrentamento do racismo.
Portal Geledés, 18/09/2020.)
(Adaptado
de O papel central da escola no enfrentamento do racismo. Portal Geledés,
18/09/2020.)
Você deverá escolher apenas UMA das
propostas para desenvolver. Não se esqueça de marcar a proposta escolhida na
folha de resposta reservada para a Redação.
Uma das novidades para o vestibular 2024 da UNICAMP
é a nova lista de obras indicadas, entre a nova seleção destacamos as canções escolhidas
da obra do sambista carioca Cartola, confira as 10 composições abaixo:
Canções
escolhidas, de Cartola:
1.
Alvorada
2.
As rosas não falam
3.
Cordas de aço
4.
Disfarça e chora
5.
O inverno do meu tempo
6.
O mundo é um moinho
7.
Que é feito de você?
8.
Sala de recepção
9.
Silêncio de um cipreste
10.
Sim
Alvorada
Cartola,
Carlos Cachaça e Hermínio Bello Carvalho
Álbum
Cartola - 1974
Alvorada
lá no morro, que beleza
Ninguém
chora, não há tristeza
Ninguém
sente dissabor
O
sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E
a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
Alvorada
Alvorada
lá no morro, que beleza
Ninguém
chora, não há tristeza
Ninguém
sente dissabor
O
sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E
a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
Você
também me lembra a alvorada
Quando
chega iluminando
Meus
caminhos tão sem vida
E
o que me resta é bem pouco
Quase
nada, de que ir assim
Vagando
numa estrada perdida
Alvorada
Alvorada
lá no morro, que beleza
Ninguém
chora, não há tristeza
Ninguém
sente dissabor
O
sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E
a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
Alvorada
Alvorada
lá no morro, que beleza
Ninguém
chora, não há tristeza
Ninguém
sente dissabor
O
sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
E
a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
Você
também me lembra a alvorada
Quando
chega iluminando
Meus
caminhos tão sem vida
E
o que me resta é bem pouco
Quase
nada, de que ir assim
Vagando
numa estrada perdida
Alvorada
Alvorada
lá no morro, que beleza
Ninguém
chora, não há tristeza
Ninguém
sente dissabor
E
a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
Alvorada
As
Rosas Não falam
Cartola
Álbum
Cartola - 1974
Bate
outra vez
Com
esperanças o meu coração
Pois
já vai terminando o verão
Enfim
Volto
ao jardim
Com
a certeza que devo chorar
Pois
bem sei que não queres voltar
Para
mim
Queixo-me
às rosas
Que
bobagem as rosas não falam
Simplesmente
as rosas exalam
O
perfume que roubam de ti, ai
Devias
vir
Para
ver os meus olhos tristonhos
E,
quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por
fim
Cordas
de Aço
Cartola
Álbum
Cartola II - 1976
Ah,
essas cordas de aço
Este
minúsculo braço
Do
violão que os dedos meus acariciam
Ah,
este bojo perfeito
Que
trago junto ao meu peito
Só
você violão
Compreende
porque perdi toda alegria
E
no entanto meu pinho
Pode
crer, eu adivinho
Aquela
mulher
Até
hoje está nos esperando
Solte
o teu som da madeira
Eu
você e a companheira
Na
madrugada iremos pra casa
Cantando
Ah,
essas cordas de aço
Este
minúsculo braço
Do
violão que os dedos meus acariciam
Ah,
este bojo perfeito
Que
trago junto ao meu peito
Só
você violão
Compreende
porque perdi toda alegria
Disfarça
e Chora
Cartola
Álbum
Cartola - 1974
Chora, disfarça e chora Aproveita a voz do lamento Que já vem a aurora
A pessoa que tanto queria Antes mesmo de raiar o dia Deixou o ensaio por outra
Ó triste senhora Disfarça e chora Todo o pranto tem hora
E eu vejo seu pranto cair No momento mais certo Olhar, gostar só de longe
Não faz ninguém chegar perto E o seu pranto, ó triste senhora Vai molhar o deserto
Chora, disfarça e chora Aproveita a voz do lamento Que já vem a aurora
A pessoa que tanto queria Antes mesmo de raiar o dia Deixou a Escola por outra
Ó triste senhora Disfarça e chora Todo o pranto tem hora
E eu vejo seu pranto cair No momento mais certo Olhar, gostar só de longe
Não faz ninguém chegar perto E o seu pranto, ó triste senhora Vai molhar o deserto Vai molhar o deserto
O Inverno do Meu tempo
Cartola
Surge
a alvorada
Folhas
a voar
E
o inverno do meu tempo começa
A
brotar, a minar
E
os sonhos do passado
No
passado estão presentes
No
amor...
E
não envelhece jamais
Eu
tenho paz
E
ela tem paz
Nossas
vidas
Muito
sofridas caminhos tortuosos
Entre
flores e espinhos demais
Já
não sinto saudade
Saudades
de nada que vi
O
inverno do tempo da vida
Oh
Deus e eu me sinto feliz
Surge
a alvorada
Folhas
a voar
E
o inverno do meu tempo começa
A
brotar, a minar
E
os sonhos do passado
No
passado estão presentes
No
amor...
E
não envelhece jamais
Eu
tenho paz
E
ela tem paz
Nossas
vidas
Muito
sofridas caminhos tortuosos
Entre
flores e espinhos demais
Já
não sinto saudade
Saudades
de nada que vi
O
inverno do tempo da vida
Oh
Deus e eu me sinto feliz
O
Mundo é um Moinho
Cartola
Álbum
Cartola II - 1976
Ainda
é cedo, amor
Mal
começaste a conhecer a vida
Já
anuncias a hora de partida
Sem
saber mesmo o rumo que irás tomar
Presta
atenção, querida
Embora
eu saiba que estás resolvida
Em
cada esquina cai um pouco tua vida
Em
pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me
bem, amor
Preste
atenção, o mundo é um moinho
Vai
triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai
reduzir as ilusões a pó
Preste
atenção, querida
De
cada amor, tu herdarás só o cinismo
Quando
notares, estás à beira do abismo
Abismo
que cavaste com teus pés
Ainda
é cedo, amor
Mal
começaste a conhecer a vida
Já
anuncias a hora de partida
Sem
saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste
atenção, querida
Embora
eu saiba que estás resolvida
Em
cada esquina cai um pouco a tua vida
Em
pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me
bem, amor
Preste
atenção, o mundo é um moinho
Vai
triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai
reduzir as ilusões a pó
Presta
atenção, querida
De
cada amor, tu herdarás só o cinismo
Quando
notares, estás à beira do abismo
Abismo
que cavaste com teus pés
O
que é feito de você?
Cartola
O
que é feito de você ó minha mocidade?
Ó
minha força, a minha vivacidade?
O
que é feito dos meus versos e do meu violão?
Troquei-os
sem sentir por um simples bastão
E
hoje quando passo a gurizada pasma
Horrorizada
como quem vê um fantasma
E
um esqueleto humano assim vai
Cambaleando
quase cai, não cai
Pés
inchados, passos em falso
O
olhar embaçado
Nenhum
amigo ao meu lado
Não
há por mim compaixão
A
tudo vou assistindo
A
ingratidão resistindo
Só
sinto falta dos meus versos
Da
mocidade e do meu violão
O
que é feito de você ó minha mocidade?
Ó
minha força, a minha vivacidade?
O
que é feito dos meus versos e do meu violão?
Troquei-os
sem sentir por um simples bastão
E
hoje quando passo a gurizada pasma
Horrorizada
como quem vê um fantasma
E
um esqueleto humano assim vai
Cambaleando
quase cai, não cai
Cambaleando
quase cai, não cai
Cambaleando
quase cai, não cai...
Sala
de Recepção
Cartola
Álbum
Cartola II - 1976
Habitada
por gente simples e tão pobre
Que
só tem o sol que a todos cobre
Como
podes, mangueira, cantar?
Pois
então saiba que não desejamos mais nada
A
noite, a lua prateada
Silenciosa,
ouve as nossas canções
Tem
lá no alto um cruzeiro
Onde
fazemos nossas orações
E
temos orgulho de ser os primeiros campeões
Eu
digo e afirmo que a felicidade aqui mora
E
as outras escolas até choram
Invejando
a tua posição
Minha
mangueira essa sala de recepção
Aqui
se abraça inimigo
Como
se fosse irmão
Habitada
por gente simples e tão pobre
Que
só tem o sol que a todos cobre
Como
podes, mangueira, cantar?
Pois
então saiba que não desejamos mais nada
A
noite, a lua prateada
Silenciosa,
ouve as nossas canções
Tem
lá no alto um cruzeiro
Onde
fazemos nossas orações
E
temos orgulho de ser os primeiros campeões
Eu
digo e afirmo que a felicidade aqui mora
E
as outras escolas até choram
Invejando
a tua posição
Minha
mangueira essa sala de recepção
Aqui
se abraça inimigo
Como
se fosse irmão
Habitada
por gente simples e tão pobre
Que
só tem o sol que a todos cobre
Como
podes, mangueira, cantar?
Pois
então saiba que não desejamos mais nada
A
noite, a lua prateada
Silenciosa,
ouve as nossas canções
Tem
lá no alto um cruzeiro
Onde
fazemos nossas orações
E
temos orgulho de ser os primeiros campeões
Silencio
de um cipreste
Cartola
Todo
mundo tem o direito
De
viver cantando
O
meu único defeito
É
viver pensando
Em
que não realizei
E
é difícil realizar
Se
eu pudesse dar um jeito
Mudaria
o meu pensar
Todo
mundo tem o direito
De
viver cantando
O
meu único defeito
É
viver pensando
Em
que não realizei
E
é difícil realizar
Se
eu pudesse dar um jeito
Mudaria
o meu pensar
O
pensamento é uma folha desprendida
Do
galho de nossas vidas
Que
o vento leva e conduz
É
uma luz vacilante e cega
É
o silêncio do cipreste
Escoltado
pela cruz
Todo
mundo tem o direito
De
viver cantando
O
meu único defeito
É
viver pensando
Em
que não realizei
E
é difícil realizar
Se
eu pudesse dar um jeito
Mudaria
o meu pensar
Todo
mundo tem o direito
De
viver cantando
O
meu único defeito
É
viver pensando
Em
que não realizei
E
é difícil realizar
Se
eu pudesse dar um jeito
Mudaria
o meu pensar
O
pensamento é uma folha desprendida
Do
galho de nossas vidas
Que
o vento leva e conduz
É
uma luz vacilante e cega
É
o silêncio do cipreste
Escoltado
pela cruz
Sim
Cartola
Álbum
Cartola - 1974
Sim
Deve
haver o perdão
Para
mim
Senão
nem sei qual será
O
meu fim
Para
ter uma companheira
Até
promessas fiz
Consegui
um grande amor
Mas
eu não fui feliz
E
com raiva para os céus
Os
braços levantei
Blasfemei
Hoje
todos são contra mim
Sim
Deve
haver o perdão
Para
mim
Senão
nem sei qual será
O
meu fim
Para
ter uma companheira
Até
promessas fiz
Consegui
um grande amor
Mas
eu não fui feliz
E
com raiva para os céus
Os
braços levantei
Blasfemei
Hoje
todos são contra mim
Todos
erram neste mundo
Não
há exceção
Quando
voltam à realidade
Conseguem
perdão
Porque
é que eu, Senhor
Que
errei pela vez primeira
Passo
tantos dissabores
E
luto contra a humanidade inteira?
Sim
Deve
haver o perdão
Para
mim
Senão
nem sei qual será
O
meu fim
Para
ter uma companheira
Até
promessas fiz
Consegui
um grande amor
Mas
eu não fui feliz
E
com raiva para os céus
Os
braços levantei
Blasfemei
Hoje
todos são contra mim
Sim
Deve
haver o perdão
Cartola, 1920 (aos 12 anos de idade)
CARTOLA
(1908- 1980)
FINDA A TEMPESTADE, O SOL RENASCEU
Numa certa noite, em 1935, o
musicólogo Brasílio Itiberê visitou o morro da Mangueira. E foi recebido, na
ponte sobre a linha férrea, por um grupo de ritmistas e pastoras da escola de
samba Estação Primeira. Feitas as apresentações, a comitiva subiu em cortejo.
E, como era de praxe, ao som do coro e da bateria; tendo à frente a baliza e a
porta-estandarte; e sob o comando do apito do mestre de harmonia. Profundamente
impressionado por essa visita, Itiberê fez sobre ela um relato minucioso, no
qual fala de seu encantamento com um samba em especial, "Tragédia":
"Prestai bem atenção que este é um samba do Cartola!", escreveu em
seu Mangueira, Montmartre e outras favelas. "Não ouvireis tão cedo um
canto assim tão puro, nem linha melódica tão larga e ondulante. Atentai como é
bela, e como oscila e boia, sem pousar, entre a marcação dos 'surdos' e a trama
cerrada dos tamborins", desmanchou-se.
Talvez em busca de um bom
"gancho", em 2008, algumas pautas jornalísticas tentaram associar o
centenário da morte de Machado de Assis ao de nascimento do compositor Cartola.
Chegou-se até a especular se Cartola teria sido o "Machado de Assis do
samba". Bobagem! Afinidades entre os dois, se as houve, foram, obviamente,
as de origem étnica, além daquelas devidas ao grande talento de ambos, cada um
em seu lugar. Porque, até na propalada vivência no "morro", Machado e
Cartola foram muito diferentes.
O menino Joaquim Maria foi criado no
morro do Livramento, na época ainda um conjunto de chácaras, e não um amontoado
de casebres, como seria regra geral depois no Rio. Já Cartola, nascido Agenor
de Oliveira, no dia 11 de outubro de 1908, no bairro do Catete, portal da Zona
Sul, passou boa parte da infância na rua das Laranjeiras, então já servida por
bondes elétricos, vizinho de insignes figuras, hoje com seus nomes sonoros em
placas de ruas.
O compositor fascinante, que encantou
o musicólogo Itiberê, já estava desde 1920 na Mangueira, então uma favela
incipiente. Morrera-lhe o avô, sustentáculo da família, e a vida teve de mudar.
Mas a semente de uma instrução pública rigorosa, como era a daqueles tempos,
plantada em terreno fértil, frutificou. E como! Era 1935. E o compositor já
tinha alguns belos sambas gravados por artistas famosos, como Francisco Alves,
Carmem Miranda e Silvio Caldas. Só que, de repente, "tudo acabado, o baile
encerrado" — como diz um de seus sambas.
É que em 1928, por força de lei, os
compositores musicais foram equiparados, em termos de direitos autorais, aos
autores de teatro. Abria-se, então, um novo campo profissional, num setor ainda
inexplorado. E a turma da música teve que se abrigar sob as asas da Sociedade
Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), que, por seu] perfil aristocrático, não
os viu com bons olhos.
Logo, logo, instaurou. se o conflito:
de um lado, a SBAT; do outro, os compositores populares. Sim, populares
(alunos, à distância, dos fundadores do samba), mas de paletó e gravata e até “anel
no dedo”.
Os quais, assim, e, dizem, com
dinheiro vindo de fora, organizaram-se em associação, para protagonizar os
primeiros momentos da história dos direitos autorais musicais no Brasil.
Enquanto isso, de longe, na calçada do outro lado da rua, olhando o burburinho
do Café Nice, os pretinhos do samba não entendiam bem o que se passava.
Frustrados em sua expectativa de
ascensão social por meio de sua arte, os sambistas continuaram em seus biscates
e "virações", ocasionalmente de cunho artístico. E Cartola, mesmo
admirado por Villa-Lobos e elogiado até pelo célebre maestro inglês Leopold
Stokowski — que o ouviu no Rio em 1940 —, não foi exceção.
Por outro lado, em 1945, as rixentas
sociedades autorais celebravam um armistício. No acordo, a SBAT ficava com os
direitos de teatro, que até bem pouco tempo ainda eram chamados "grandes
direitos", e os compositores "populares" ficavam com os
"peque-nos". E assim o pessoal do Estácio, do Salgueiro, da
Mangueira, de Oswaldo Cruz foi mesmo saindo de cena. Cartola, pobre e doente, foi
junto, no mesmo momento em que se consagrava a categorização "samba de
morro", distinta dos sambas feitos pelos compositores efetivamente
"do rádio".
Mas o destino, sábio, fez com que as
escolas de samba crescessem em importância — e, com elas, Cartola se
consolidasse como um verdadeiro mito. E isso aconteceu apesar de, em 1951, ele
ter passado o bastão da harmonia mangueirense ao ex-portelense Olivério
Ferreira, o famoso Xangô da Mangueira até porque a "harmonia", no
sentido técnico de conjunto de regras da tonalidade, ou de sons relacionados,
não cabia mais nas escolas, as quais, já aí, sustentavam-se apenas na
percussão.
Nos anos 1950 e 1960, então, Cartola,
depois de comer o pão que o diabo amassou e ser dado como morto e acabado, veio
vindo de novo superfície. Primeiro, escorado aqui e ali, com um emprego subalterno
em um ministério, conseguido por um político amigo; também com a abertura do
restaurante e casa de shows Zicartola, com o capital de amigos bancando a
aventura por eles mesmos inventada, Depois, com as gravações de "O sol
nascerá", por Elis Regina, em 1964 e 'Alvorada", por Clara Nunes,
em 1972 -- e das regravações de grandes sambas compostos no passado —, além do
infalível e admirável companheirismo de dona Zica, mulher pra toda obra... Até
que veio o êxito.
Entre 1974 e 1979, com "As rosas
não falam", "O mundo é um moinho" e "Peito vazio",
entre outras composições, com ou sem parceiros, Cartola, com dois LPs gravados
em sua própria voz, chegou onde sempre deveria estar. Mas a
"indesejada" logo cobrou seu tributo. E a 30 de novembro de 1980 o
levou.
Cartola, como se diz por aí,
"tinha tudo pra dar errado". Mas não deu. A ponto de, em 2008,
tentarem compará-lo a Machado de Assis, o que, para mim, repito, é uma bobagem.
Machado de Assis — que muitos ainda
insistem em não ver como um afrodescendente — é a reluzente imortalidade
acadêmica. Cartola, negro, favelado, compositor popular, sambista e, apesar de
tudo, um mito, é símbolo de resistência. Brilhante; também.
Fonte: LOPES, Nei. Afro-Brasil Reluzente – 100 Personalidades Notáveis do Século. Rio
de Janeiro, Nova Fronteira, 2019. pp.39-42